quarta-feira, 20 de junho de 2012

Você bateu à minha porta e, mesmo desconfiada, te deixei entrar. Lembro que estava frio, tomamos um vinho e ficamos conversando. Era um papo gostoso e eu repetia para mim mesma: deixa fluir. Demos muitas risadas. Você me falava da sua vida e de coisas bonitas. Eu te ouvia hipnotizada. Na verdade, você podia estar falando um monte de besteiras e coisas sem nexo, eu não ligaria, era a sua voz que me prendia. Em transe, não percebi que você olhava frequentemente o relógio. Você tinha hora marcada em outro lugar. Compromisso era a palavra certa. Quando percebi, já era bem tarde, o tempo havia passado muito ligeiro. Por mais que eu quisesse que você ficasse, você tinha de partir. Ofereci mais vinho, fiz charme, caras e bocas, mas você tinha de ir. Triste, abri a porta e te deixei sair. É inútil querer a companhia de quem já não quer estar mais ali. E você se foi. Agora, quando olho para essa sala tão vazia, (mesmo cheia de gente), quando sinto essa casa tão silenciosa, (ninguém tem o tom da sua voz), me dá um aperto, uma saudade. Parece até que ficamos juntos por uma vida inteira, mas foi só um momento... Fico relembrando nossas conversas todos os dias antes de dormir e fico sonhando com o que poderia acontecer se você tivesse ficado. Tenho vontade de te ligar e te convidar para voltar, outro vinho, quem sabe... Mas aí eu lembro que seu relógio vai continuar informando que você não pode ficar. Desisto. Desligo antes mesmo de discar. Tranco a porta para que mais ninguém chegue. Não por gostar de solidão, mas porque não quero ver mais ninguém partindo. Pego um livro para ler, querendo que o tempo passe mais rápido e que minhas lembranças se apaguem. Não dizem que o tempo cura tudo? Mas aqui entre nós, confesso que todo dia ao me deitar, desejo ouvir o barulho na minha porta anunciando que você voltou. Sem relógio. Pra ficar.

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